quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ser sincero

Semana passada minha professora de redação disse que a nossa segunda nota seria dada por uma crônica que nós teríamos que escrever ao decorrer da semana, sobre o tema "sinceridade", achei a coisa mais tosca do mundo e imaginei que a minha seria uma coisa improvisada de última hora sem fundamento nenhum, porém nesse mesmo dia, por ironia do destino, a maior chuva do mês começou no minuto em que eu sai do colégio e só parou de noite e eu, como sempre na rua, acabei vivendo uma situação perfeita para uma crônica humorística que eu escrevi no bloco de notas do meu celular, de pé, no hall de um prédio desconhecido e é o que eu vou apresentar para a professora amanhã de manhã.

A chuva tinha diminuído e eu estava determinada a sair de onde eu estava, me despedi de algumas pessoas que eu nem sabia se podia chamar de amigos, coloquei meus fones e sai em direção da chuva que agora caia em finos pingos. Li a mensagem curta da minha mãe pedindo pra eu encontra-la onde ela estava, um prédio amarelo na rua que ela tinha me mostrado mais cedo, eu não lembrava muito bem do lugar e a chuva começou a aumentar, mas eu não  me importei, a chuva e a música triste definiam o jeito como eu me sentia, fechei o fino casaco e abracei o meu corpo na esperança de me sentir confortada.
Tumblr_lxculnx6kt1qcpup4_largeDepois de caminhar algumas quadras eu avistei o carro da minha mãe estacionado na quadra que ela tinha indicado, só me restava encontrar o tal prédio amarelo, a chuva me impossibilitava de ver quase tudo, entrei no primeiro prédio que eu vi e, é claro, para o meu azar o prédio era residencial e não o que eu estava procurando, porém tinha um hall externo livre da chuva, decidi que iria ficar ali até a chuva diminuir e eu poder encontrar o prédio certo.
Um tempo se passou e um antigo colega meu apareceu, sim, ele morava no prédio e ele me viu naquele estado,  como um bom menino idiota entrou em casa rindo de mim . Um tempo se passou e um homem que eu nunca tinha visto na vida apareceu, outro morador do prédio, por educação eu sorri pra ele, mesmo parecendo uma mendiga molhada, em resposta ao meu sorriso forçado o moço disse “tudo bem?” obviamente, por educação. Eu estava tão brava, triste e molhada naquele momento que pensei em ser sincera:
“Bem? O senhor está me perguntando se eu estou bem? Eu estou encharcada, parece que eu mergulhei numa poça de água, minha calça tá colada nas minhas pernas, meu cabelo recém alisado tá parecendo um ninho de rato, eu descobri que não tem músicas triste suficientes no meu celular, acabaram de esfregar na minha cara que o amor da minha vida não dá a mínima pra mim, passei uma hora consolando uma menina pra ela dizer na minha cara que não gosta de mim, andei na chuva, estou a vinte minutos esperando a minha mãe na frente de um prédio desconhecido, meu antigo amigo acabou de me ver parecendo um pinto molhado e provavelmente vai contar pra todo mundo e o senhor me pergunta se eu estou bem? O senhor é cego ou alguma coisa assim? Na verdade, eu não estou bem, nem um pouco bem, minha vida está de cabeça pra baixo, minha melhor amiga se mudou pro outro lado do país e ainda não tem internet, eu ouço os problemas de todo mundo, resolvo eles e não recebo um mísero muito obrigada, eu tirei nota baixa em física, eu provavelmente peguei a maior gripe do mundo nessa chuva, eu tenho uma prova difícil amanhã e nem comecei a estudar, eu não sinto a ponta dos meus dedos por causa do ballet e esse vento frio me trouxe uma maldita dor nas costas!”
Tumblr_mk6j2ubhxx1s3xrufo1_500_largeNos dois segundos em que eu elaborei essa resposta eu notei que a verdade é que quando as pessoas perguntam se está tudo bem, na maioria das vezes, elas não querem realmente saber, elas só perguntam por educação e rezam pra você não ser sincero e contar todos os problemas que te afligem, as pessoas esperam que você esteja bem, mas se você não estiver é melhor mentir, aquele senhor que eu nunca tinha visto antes não estava interessado na falta que a minha melhor amiga me faz, ou na quantidade de amigos aproveitadores que eu tenho, ou nas minhas notas, nem mesmo na minha saúde, ele só perguntou por que a boa educação manda perguntar isso para as pessoas que sorriem pra você, mesmo que essa pessoa esteja encharcada e com a cara mais triste do mundo... Pensando nisso eu deixei a sinceridade de lado e respondi um “tudo bem” acompanhado de um sorriso irônico que ele não podia mais ver... 

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