A chuva tinha diminuído e eu estava determinada a sair de
onde eu estava, me despedi de algumas pessoas que eu nem sabia se podia chamar
de amigos, coloquei meus fones e sai em direção da chuva que agora caia em
finos pingos. Li a mensagem curta da minha mãe pedindo pra eu encontra-la onde
ela estava, um prédio amarelo na rua que ela tinha me mostrado mais cedo, eu
não lembrava muito bem do lugar e a chuva começou a aumentar, mas eu não me importei, a chuva e a música triste definiam
o jeito como eu me sentia, fechei o fino casaco e abracei o meu corpo na
esperança de me sentir confortada.
Depois de caminhar algumas quadras eu avistei o carro da
minha mãe estacionado na quadra que ela tinha indicado, só me restava encontrar
o tal prédio amarelo, a chuva me impossibilitava de ver quase tudo, entrei no
primeiro prédio que eu vi e, é claro, para o meu azar o prédio era residencial
e não o que eu estava procurando, porém tinha um hall externo livre da chuva,
decidi que iria ficar ali até a chuva diminuir e eu poder encontrar o prédio
certo.
Um tempo se passou e um antigo colega meu apareceu, sim, ele
morava no prédio e ele me viu naquele estado, como um bom menino idiota entrou em casa rindo
de mim . Um tempo se passou e um homem que eu nunca tinha visto na vida
apareceu, outro morador do prédio, por educação eu sorri pra ele, mesmo
parecendo uma mendiga molhada, em resposta ao meu sorriso forçado o moço disse
“tudo bem?” obviamente, por educação. Eu estava tão brava, triste e molhada
naquele momento que pensei em ser sincera:
“Bem? O senhor está me perguntando se eu estou bem? Eu estou
encharcada, parece que eu mergulhei numa poça de água, minha calça tá colada
nas minhas pernas, meu cabelo recém alisado tá parecendo um ninho de rato, eu
descobri que não tem músicas triste suficientes no meu celular, acabaram de
esfregar na minha cara que o amor da minha vida não dá a mínima pra mim, passei
uma hora consolando uma menina pra ela dizer na minha cara que não gosta de
mim, andei na chuva, estou a vinte minutos esperando a minha mãe na frente de
um prédio desconhecido, meu antigo amigo acabou de me ver parecendo um pinto
molhado e provavelmente vai contar pra todo mundo e o senhor me pergunta se eu
estou bem? O senhor é cego ou alguma coisa assim? Na verdade, eu não estou bem,
nem um pouco bem, minha vida está de cabeça pra baixo, minha melhor amiga se
mudou pro outro lado do país e ainda não tem internet, eu ouço os problemas de
todo mundo, resolvo eles e não recebo um mísero muito obrigada, eu tirei nota
baixa em física, eu provavelmente peguei a maior gripe do mundo nessa chuva, eu
tenho uma prova difícil amanhã e nem comecei a estudar, eu não sinto a ponta
dos meus dedos por causa do ballet e esse vento frio me trouxe uma maldita dor
nas costas!”
Nos dois segundos em que eu elaborei essa resposta eu notei que a verdade é que quando as pessoas perguntam se está tudo bem, na maioria das vezes, elas não querem realmente saber, elas só perguntam por educação e rezam pra você não ser sincero e contar todos os problemas que te afligem, as pessoas esperam que você esteja bem, mas se você não estiver é melhor mentir, aquele senhor que eu nunca tinha visto antes não estava interessado na falta que a minha melhor amiga me faz, ou na quantidade de amigos aproveitadores que eu tenho, ou nas minhas notas, nem mesmo na minha saúde, ele só perguntou por que a boa educação manda perguntar isso para as pessoas que sorriem pra você, mesmo que essa pessoa esteja encharcada e com a cara mais triste do mundo... Pensando nisso eu deixei a sinceridade de lado e respondi um “tudo bem” acompanhado de um sorriso irônico que ele não podia mais ver...
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